O presidente Jair Bolsonaro deve nomear nesta segunda-feira (27) o delegado Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para a diretoria geral da Polícia Federal.
Ramagem deve substituir Maurício Valeixo, cuja exoneração motivou a saída do ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública na sexta-feira.
Ramagem foi segurança do então candidato a presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Ele assumiu o comando da segurança depois do candidato ter sido vítima de uma facada em Juiz de Fora (MG).
Antes disso, 0 delegado da Polícia Federal comandou as divisões de Administração de Recursos Humanos e de Estudos, Legislações e Pareceres na PF. Também atuou na área de coordenação de eventos como a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016 e a Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente.
Carta aberta dos Delegados
A Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), em carta aberta ao presidente, fez críticas às tentativas de interferência na Polícia Federal. A entidade apontou uma “crise de confiança” na indicação do novo diretor-geral e pediu ao presidente um compromisso na aprovação da autonomia e do mandato para o cargo de chefe da instituição.
A carta informa que as investigações e os relatórios de inteligência da PF são sigilosos. Não há, portanto, nenhuma previsão do fornecimento de informações diárias à Presidência. O documento acrescenta que não cabe à instituição produzir “um resultado específico desejado” na investigação sobre a facada. E acrescenta que as solicitações de investigações feitas pelo presidente devem respeitar os canais hierárquicos e as formalidades do serviço público.
“Da maneira como ocorreu, há uma crise de confiança instalada, tanto por parte de parcela considerável da sociedade, quanto por parte dos delegados de Polícia Federal, que prezam pela imagem da instituição. Nenhum delegado quer ver a PF questionada pela opinião pública a cada ação ou inação. Também não quer trabalhar sob clima de desconfianças internas. O contexto criado pela exoneração do comando da PF e pelo pedido de demissão do ministro Sérgio Moro imporá ao próximo Diretor um desafio enorme: demonstrar que não foi nomeado para cumprir missão política dentro do órgão. Assim, existe o risco de enfrentar uma instabilidade constante em sua gestão”, diz um trecho do documento.
A entidade enfatiza que o presidente precisa manter “distância republicana” da PF após a nomeação do seu diretor-geral, sob risco de suas ações serem interpretadas como tentativas de interferência política. Diz ainda que o presidente não pode ter acesso a informações sigilosas da PF, precisa respeitar o ordenamento legal para solicitar investigações.